<em>“Real Politik”</em>
A conclusão mais óbvia é que ela serve objectivamente os interesses israelitas
No momento da redacção deste artigo não existem combates no Líbano. O chamado cessar-fogo está em vigor há poucas horas. Mas qual foi o preço que o Estado e o povo libanês tiveram que pagar para deixar de viver, ainda que num quadro de grandes incertrzas, sob o inferno dos bombardeamentos israelitas?
O primeiro preço foi… 33 dias de terror, morte, destruição e fuga. O tempo necessário e meticulosamente gerido pelas declarações públicas dos EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha de modo a permitir que Israel atingisse o seu objectivo: avançar no terreno até ao rio Litani, ocupar o Líbano com 30.000 soldados e destruir o país.
Mas para ter alguma paz e respirar, e apenas isso até ao momento, o Líbano e o seu governo tiveram que aceitar a aprovação na passada sexta-feira da resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas e esse foi o segundo preço. Na negociação ficou bem evidente a natureza terrorista da política de Israel. A guerra deixou de ser «uma extensão da política» o que por si já é uma aberração, para passar a ser a principal arma política de Israel, usando-a para chantagear ora o Líbano, ora as Nações Unidas, sempre com o apoio do amigo norte-americano e com a hipocrisia calculista de variadas potências europeias. A resolução 1701, o método, ritmo e modo como foi aprovada, é assim mais um elucidativo exemplo da hipocrisia da chamada «comunidade internacional» e da necessidade urgente de uma real democratização da ONU que, refém das principais potências imperialistas, acaba sistematicamente por legitimar a política de guerra, agressão e ingerência.
Uma resolução que resultante de intermináveis «negociações» apenas «toma nota» das opiniões do governo libanês e omite a questão fundamental de toda a situação: a guerra de agressão contra o Líbano, desencadeada por Israel à margem do direito internacional com base num falso pretexto, sobretudo quando já abundam as provas de que esta ofensiva militar estaria já em preparação por Israel e EUA muito antes da captura dos dois soldados israelitas pelo Hezbollah e que poderá ser o prelúdio de ulteriores ataques à Síria e Irão. (1)
Contendo elementos que o governo libanês considera serem vitórias suas a verdade é que o seu conteúdo é em grande parte uma sofisticada operação de branqueamento da força agressora e de chantagem para com o agredido. São ocultadas questões fundamentais como os crimes de guerra e contra a Humanidade cometidos por Israel ao mesmo tempo que se continua a negar na prática a soberania ao povo libanês e não se devolvem territórios ao Líbano que são seus por direito. A parcialidade é tónica dominante: Exige-se o «fim dos ataques» quando se fala da parte libanesa mas fala-se do «fim das operações militares ofensivas» quando se refere Israel. Exige-se a libertação incondicional dos dois soldados israelitas mas já relativamente aos prisioneiros libaneses nas cadeias israelitas fala-se de «regularizar a situação». Ao ocupado e ocupante exige-se genericamente «o fim das hostilidades» mas com uma diferença de fundo: a retirada israelita deve «acontecer o mais cedo possível» deixando-se cair assim a exigência da retirada imediata. Estes são apenas alguns exemplos da autêntica ratoeira diplomática que constitui esta Resolução. O estratagema é velho, já se usou contra a Palestina. A solução fica aparentemente nas mãos do ocupado que, por sua vez, as tem atadas em virtude do caos e ciclo de violência criado pelo ocupante e agressor. Conhecendo a história da interpretação e desrespeito por parte de Israel das resoluções das Nações Unidas e olhando para o texto desta resolução a conclusão mais óbvia é que ela serve objectivamente os interesses israelitas, dá cobertura a uma guerra de invasão e agressão e, pior, deixa todas as brechas diplomáticas para que Israel possa decidir o que quiser, inclusive manter-se no Líbano por tempo indeterminado como já aconteceu no passado. Simultaneamente, as Nações Unidas decidem enviar para o território 15.000 soldados provenientes na sua esmagadora maioria de países da NATO, com destaque para França, Itália e Turquia, para… proteger o agressor e o ocupante! Entretanto, na Palestina continuam a morrer as vítimas dos tanques e da aviação israelita… É a real politik do imperialismo.
______________
(1) Ver por exemplo edição de 13/08 da revista “New Yorker” ( www.newyorker.com/fact/content/articles/060821fa_fact )
O primeiro preço foi… 33 dias de terror, morte, destruição e fuga. O tempo necessário e meticulosamente gerido pelas declarações públicas dos EUA, França, Grã-Bretanha e Alemanha de modo a permitir que Israel atingisse o seu objectivo: avançar no terreno até ao rio Litani, ocupar o Líbano com 30.000 soldados e destruir o país.
Mas para ter alguma paz e respirar, e apenas isso até ao momento, o Líbano e o seu governo tiveram que aceitar a aprovação na passada sexta-feira da resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas e esse foi o segundo preço. Na negociação ficou bem evidente a natureza terrorista da política de Israel. A guerra deixou de ser «uma extensão da política» o que por si já é uma aberração, para passar a ser a principal arma política de Israel, usando-a para chantagear ora o Líbano, ora as Nações Unidas, sempre com o apoio do amigo norte-americano e com a hipocrisia calculista de variadas potências europeias. A resolução 1701, o método, ritmo e modo como foi aprovada, é assim mais um elucidativo exemplo da hipocrisia da chamada «comunidade internacional» e da necessidade urgente de uma real democratização da ONU que, refém das principais potências imperialistas, acaba sistematicamente por legitimar a política de guerra, agressão e ingerência.
Uma resolução que resultante de intermináveis «negociações» apenas «toma nota» das opiniões do governo libanês e omite a questão fundamental de toda a situação: a guerra de agressão contra o Líbano, desencadeada por Israel à margem do direito internacional com base num falso pretexto, sobretudo quando já abundam as provas de que esta ofensiva militar estaria já em preparação por Israel e EUA muito antes da captura dos dois soldados israelitas pelo Hezbollah e que poderá ser o prelúdio de ulteriores ataques à Síria e Irão. (1)
Contendo elementos que o governo libanês considera serem vitórias suas a verdade é que o seu conteúdo é em grande parte uma sofisticada operação de branqueamento da força agressora e de chantagem para com o agredido. São ocultadas questões fundamentais como os crimes de guerra e contra a Humanidade cometidos por Israel ao mesmo tempo que se continua a negar na prática a soberania ao povo libanês e não se devolvem territórios ao Líbano que são seus por direito. A parcialidade é tónica dominante: Exige-se o «fim dos ataques» quando se fala da parte libanesa mas fala-se do «fim das operações militares ofensivas» quando se refere Israel. Exige-se a libertação incondicional dos dois soldados israelitas mas já relativamente aos prisioneiros libaneses nas cadeias israelitas fala-se de «regularizar a situação». Ao ocupado e ocupante exige-se genericamente «o fim das hostilidades» mas com uma diferença de fundo: a retirada israelita deve «acontecer o mais cedo possível» deixando-se cair assim a exigência da retirada imediata. Estes são apenas alguns exemplos da autêntica ratoeira diplomática que constitui esta Resolução. O estratagema é velho, já se usou contra a Palestina. A solução fica aparentemente nas mãos do ocupado que, por sua vez, as tem atadas em virtude do caos e ciclo de violência criado pelo ocupante e agressor. Conhecendo a história da interpretação e desrespeito por parte de Israel das resoluções das Nações Unidas e olhando para o texto desta resolução a conclusão mais óbvia é que ela serve objectivamente os interesses israelitas, dá cobertura a uma guerra de invasão e agressão e, pior, deixa todas as brechas diplomáticas para que Israel possa decidir o que quiser, inclusive manter-se no Líbano por tempo indeterminado como já aconteceu no passado. Simultaneamente, as Nações Unidas decidem enviar para o território 15.000 soldados provenientes na sua esmagadora maioria de países da NATO, com destaque para França, Itália e Turquia, para… proteger o agressor e o ocupante! Entretanto, na Palestina continuam a morrer as vítimas dos tanques e da aviação israelita… É a real politik do imperialismo.
______________
(1) Ver por exemplo edição de 13/08 da revista “New Yorker” ( www.newyorker.com/fact/content/articles/060821fa_fact )